Entrevista realizada por Rita Bruno, Jornalista da Família Cristã, aos Psicólogos
Paulo Vitória (Terapeuta Familiar) e Conceição Nobre Rodrigues (Psicoterapeuta).
1. Existe alguma diferença de idade entre irmãos que seja «aconselhável»?
Nas relações humanas tudo tem vantagens e desvantagens. O “aconselhável” depende sempre das circunstâncias de cada caso. O processo profissional de aconselhamento caracteriza-se por ser centrado na pessoa ou no caso, que é uma conjugação do “eu” e da circunstância. Neste contexto, não nos parece que a diferença de idade entre irmãos seja um aspecto a que se deva dar muito peso na decisão de ter mais um filho.
2. O que pode ser considerado como uma «grande» diferença de idades entre irmãos?
Não podemos aceitar o conceito de “grande” diferença entre irmãos. Há sempre uma diferença entre irmãos (todas as pessoas são diferentes) e a idade é apenas um factor dessa diferença. É pouco provável que a idade esteja entre os factores mais importantes para compreender e, principalmente, para gerir as diferenças entre irmãos.
3. Que reacções podem surgir nas crianças ou adolescentes quando existe um fosso grande de idade para com o irmão que vai chegar?
O mais importante é as crianças sentirem que têm o seu lugar na família independentemente da quantidade de irmãos e das diferenças de idade entre si. Face à possibilidade de surgir mais um bebé, o que conta é o modo como os pais fazem sentir aos filhos que já têm, que o seu espaço físico e afectivo estará sempre garantido.
4. Que tipo de relação se gera entre irmãos com grandes diferenças de idades? É diferente daquelas onde essa diferença é menor?
Como foi referido numa resposta anterior, a idade é um factor que condiciona as relações entre irmãos, mas, geralmente, não é o factor mais importante. As crianças são mais afectadas pelo desenvolvimento do que os adultos e o desenvolvimento depende em grande parte da idade. Mas é difícil ou mesmo impossível caracterizar essas diferenças porque, cada caso é único.
5. E no caso dos pais, quando um segundo ou terceiro filho surge muito tempo depois, que reacção isso provoca? E em termos de educação, o que tende a mudar?
Ter um filho causa sempre um forte impacto na vida da família e de cada um dos seus elementos, em especial na vida dos pais e no exercício da parentalidade. Ter um filho tem também um forte impacto na esfera da conjugalidade, em especial quando se trata de um filho mais tardio. A conjugalidade é o eixo nuclear da família. Se a conjugalidade estiver bem o exercício da parentalidade é quase automático. A educação de um filho tardio poderá ser condicionada pela idade e pela experiência dos pais, assim como pela presença de irmãos mais velhos. Mas é difícil encontrar padrões concretos para caracterizar essas diferenças.
6. Imaginemos uma diferença de 15 anos entre irmãos… que problemas podem advir de uma diferença tão grande? E que vantagens?
Neste caso, um exemplo de problemas é a parentalização do irmão/ã mais velho/a, ou seja, é a tendência para atribuir ao/à irmão/ã tarefas e funções que ultrapassam os limites da sua posição natural na família e até, os limites da sua identidade e do seu próprio desenvolvimento. As vantagens são todas as que podem resultar de mais um elemento do sistema familiar (da rede afectiva) que pode servir de referência para o novo bebé e a futura criança e adolescente.
7. Com diferenças tão grandes estaremos a criar relações de irmãos ou de «pseudo-pais»?
Sim. Como foi referido na resposta anterior, existe esse risco, que designamos de parentalização de um filho. Mas trata-se de um risco. Não é inevitável que tal aconteça.
8. Há alguma coisa que deva ser feita para minimizar o fosso de idades ou, pelo contrário, não há nada que tenha que ser feito?
A diferença de idades, como todas as diferenças, é um estímulo ao desenvolvimento de todos (dos mais velhos e dos mais novos). É apenas necessário lidar com essas diferenças com naturalidade. Se surgirem problemas recomendamos vivamente a consulta de um terapeuta familiar.
9. Pode afirmar-se que seja «desaconselhável» uma diferença de irmãos muito grande? Por exemplo, acima de 15 anos.
Não nos parece que se possa fundamentar que, em geral, uma diferença de irmãos muito grande seja “desaconselhável”. Uma vez mais, cada caso é um caso. Para os pais a quem esta entrevista possa interessar, deixamos duas ideias de senso comum: O caminho faz-se caminhando e ficar com a consciência tranquila é o máximo a que podemos aspirar como pais.
Paulo Vitória, Terapeuta Familiar, Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior
Conceição Nobre Rodrigues, Psicóloga, Psicoterapeuta, Ph + Desenvolvimento de Potencial Humano, Lda.