Trabalhos de casa, trabalhos de grupo, matemática, português, inglês, ciências… desafios para as crianças, onde a família é chamada a intervir. Qual a importância desta intervenção e como desenvolve-la? Qual o papel da família na aprendizagem escolar? São perguntas a que a psicoterapeuta Conceição Nobre Rodrigues, responde numa entrevista para a revista Família Cristã.
Se é verdade que a família é a primeira instância de referência, também é verdade que é principalmente quando se sai «debaixo das asas» dos pais que se aprende a voar. A escola é um local privilegiado de aprendizagem, ou melhor, de aprendizagens.
Todos compreendemos que, para quem tem o mundo como espaço de recreio e cada minuto como tempo de brincadeira, não é fácil habituar-se a um tempo e a um espaço de trabalho e aprendizagem que depois de iniciado “vai acompanhar a criança, o adolescente e o adulto durante grande parte da sua vida”, como ilustra a psicoterapeuta Conceição Rodrigues. Este é um dos aspectos em que o papel e a figura presente dos pais se revela de extrema importância no processo de aprendizagem de crianças e adolescentes.
Dado este primeiro passo, os pais assumem papel de relevo como “facilitadores” do processo de aprendizagem, de modo a que o espaço e o tempo da escola sejam bem aproveitados para o desenvolvimento das crianças, a todos os níveis. Conceição Rodrigues reconhece que em matéria de aprendizagem em família a palavra de ordem é “dilema”, pois há que conseguir compatibilizar as exigências profissionais com as familiares. A metodologia de ensino-aprendizagem em Portugal dá uma ênfase especial ao trabalho realizado em casa que requer, sobretudo nos primeiros anos do ensino básico, a participação dos pais. Esta participação é essencial, não só pela ajuda na transmissão e assimilação de conhecimentos, mas também na construção de uma personalidade segura, harmoniosa e confiante. “Apesar das crianças passarem cada vez mais tempo na escola, o que por si só já não é benéfico para o seu desenvolvimento, não deverão ser apenas os professores a educar, a formar os nossos filhos. Os professores, a meu ver, têm uma missão fundamental, serem professores, e não pais, psicólogos, terapeutas da fala… Um professor não pode ser tudo, ele tem uma missão e a sua missão mais importante é ensinar.» adverte Conceição Nobre Rodrigues.
Aprender com os pais
Mais do que ajudar as crianças a resolver exercícios, os pais podem ser extremamente úteis na transmissão de métodos de trabalho. Conceição Nobre dá exemplos de como se pode estimular a criação de métodos de estudo. “Obviamente que a nossa intervenção bem feita não é fazer o trabalho por elas, é ensiná-las a trabalhar, estimular a comunicação, estimular o espírito de grupo, ensiná-las a repartir tarefas, a procurar na internet, a procurar numa enciclopédia, etc. Quando nós fazemos isso estamos a estimular uma série de aspectos que vão ser fundamentais para a vida dos nossos filhos, os hábitos e métodos de trabalho.»
Finalmente, um aspecto talvez menos abordado, mas igualmente importante no processo de aprendizagem em família é o da preparação dos pais. E quando eles não sabem tudo? É muito importante não deixar que alguma falta de conhecimento ou preparação inverta os papéis. Enquanto pais, o seu envolvimento no processo de aprendizagem é igualmente importante, tenham tirado o 9º ano ou um doutoramento. “Essa posição de minimização e de coitadinho não costuma ser boa, porque isto, de alguma forma, significa uma inversão de papéis, é como se o adolescente deixasse de o ser para passar a assumir uma figura mais parental e o pai e a mãe passassem a assumir uma figura “acriançada”. Cada coisa no seu lugar; pai é pai, mãe é mãe, filho é filho”, adverte a psicoterapeuta.
A importância dos irmãos
Os irmãos, neste caso os mais velhos, poderão ser uma mais-valia no processo de aprendizagem das crianças. Eles podem servir de elo de ligação entre a escola e a família.
Os irmãos mais velhos podem também assumir, à semelhança dos progenitores, um papel de facilitadores da entrada na escola, já conhecem as rotinas, os métodos de trabalho e por vezes os professores, auxiliares e também outras crianças.
Contudo, é também preciso algum cuidado neste papel de irmãos mais velhos. Conceição Rodrigues valoriza esta relação e considera-a saudável, desde que não se torne «prática da casa». Uma coisa é pedir ajuda aos mais velhos para «darem uma mãozinha» aos mais novos, outra coisa é “parentalizar” uma criança. «Eu não acredito na sobrecarga. Tudo o que significa uma parentalização de quem ainda não tem idade para ser pai e mãe, significa responsabilidade excessiva. Significa pôr os bibelôs numa prateleira onde eles não cabem bem. Quando abanamos, mesmo que ao de leve, a prateleira, os bibelôs caem no chão e estilhaçam se porque não estavam seguros!”